segunda-feira, 3 de junho de 2013
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
Labirinto
de sonhos
Abriu
os olhos naquele dia com certa dificuldade, seus sentidos
automaticamente se puseram em alerta, como se a qualquer momento
fosse ser atacado. Procurava em sua mente indícios do que poderia
ter ocorrido na noite passada, ou talvez na semana anterior, não
sabia exatamente quanto tempo esteve dormindo, sabia simplesmente que
o medo tomava-lhe o fôlego.
Apurou
os ouvidos, tentando ouvir alguma coisa que lhe parecesse real,
familiar, mas não ouviu nada, nem risos, nem falas, nem mesmo o som
de bichos. Esforçou-se para levantar, hesitou quando uma dor aguda
se projetou sobre o seu corpo roubando-lhe o ar.
Demorou
alguns instantes até se acostumar com o incômodo que ela lhe
causava. Ela, quem era ela? Ele não lembrava, provavelmente sonhara.
Respirou fundo e determinado lançou seu corpo com firmeza até
apoiar-se na base sólida e gélida da cama.
Abriu
um pouco mais os olhos percebendo uma pequena janela, uma cortina
levemente afastada, estava num quarto, ou mais provavelmente em um
cômodo improvisado, invadido apenas pelo feixe suave de luz que mais
parecia um sopro, o lugar era vazio, mas não menos vazio que sua
cabeça, percebeu que sua cama apesar de fria e modesta podia ser
confortável, no ar pairava um cheiro doce quase excêntrico.
Piscou
novamente não mais incomodado pela luz e sim por uma voz inebriante
que chamava seu nome, tentando distinguir de onde ela vinha,
equilibrou-se com dificuldade sobre seus pés e andou em direção a
janela, afastou a cortina semiserrando os olhos, já quase cegos pela
forte luz. A voz agora soava mais clara, mais firme, procurou até
onde seus olhos alcançavam, mas não viu nada, nenhum movimento.
Estava
intrigado, seu coração pulsava forte de encontro ao peito, já não
existia medo, a voz cantava melodias suaves e então uma lágrima
escorreu pelo seu rosto quando descobriu que a ouvia em sua cabeça,
estaria louco? Não, não era possível, sempre fora lógico e
sensato, com certeza deveria estar sob efeito de algum alucinógeno.
Caminhou
até a porta, obstinado a descobrir o que havia de errado, ao tocar a
maçaneta um arrepio percorreu-lhe a espinha ao perceber um pequeno
envelope fixado a porta. Agarrou-o com mãos trêmulas e retirou de
dentro um bilhete marcado com o mesmo perfume que pairava no ar, com
uma caligrafia perfeita lia-se, “Esperava que despertasse, nos
veremos logo”.
Flashes
de imagens vultuosas surgiram na sua cabeça, podia agora recordar
sensações, temor e êxtase se misturavam, o cheiro, a voz, nada
parecia certo, tampouco parecia errado, vagava perdido em
pensamentos. Ao entardecer, trilhava um extenso caminho de folhas
secas, que logo descobriu terminar no início de um precipício.
Um
sorriso de satisfação brincava agora nos seus lábios, “temia
que não acordasse”, a voz agora era profunda, parecia colocar
algum sentindo nas coisas. Foi neste momento em que a viu, lembrou-se
dela, logo após o acidente com o vagão em que viajava ela surgiu no
meio dos trilhos e foi então que entendeu que precisava viver por
ela.
Foi
mais difícil acordar naquele dia, o sonho se repetia cada vez com
mais detalhe, agora o seu cheiro parecia real, estava presente
naquela manhã quando ao olhar para o despertador, encontrou um
pequeno envelope colocado minuciosamente em frente ao visor do rádio
relógio, sentou-se rápido esfregando freneticamente os olhos,
abriu-o retirando um delicado bilhete com a mesma caligrafia perfeita
dos seus sonhos “você é meu destino, parte de mim, já não
adianta fugir”.
By: Camila Giordani
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