segunda-feira, 19 de setembro de 2011



Labirinto de sonhos

Abriu os olhos naquele dia com certa dificuldade, seus sentidos automaticamente se puseram em alerta, como se a qualquer momento fosse ser atacado. Procurava em sua mente indícios do que poderia ter ocorrido na noite passada, ou talvez na semana anterior, não sabia exatamente quanto tempo esteve dormindo, sabia simplesmente que o medo tomava-lhe o fôlego.

Apurou os ouvidos, tentando ouvir alguma coisa que lhe parecesse real, familiar, mas não ouviu nada, nem risos, nem falas, nem mesmo o som de bichos. Esforçou-se para levantar, hesitou quando uma dor aguda se projetou sobre o seu corpo roubando-lhe o ar.

Demorou alguns instantes até se acostumar com o incômodo que ela lhe causava. Ela, quem era ela? Ele não lembrava, provavelmente sonhara. Respirou fundo e determinado lançou seu corpo com firmeza até apoiar-se na base sólida e gélida da cama.

Abriu um pouco mais os olhos percebendo uma pequena janela, uma cortina levemente afastada, estava num quarto, ou mais provavelmente em um cômodo improvisado, invadido apenas pelo feixe suave de luz que mais parecia um sopro, o lugar era vazio, mas não menos vazio que sua cabeça, percebeu que sua cama apesar de fria e modesta podia ser confortável, no ar pairava um cheiro doce quase excêntrico.

Piscou novamente não mais incomodado pela luz e sim por uma voz inebriante que chamava seu nome, tentando distinguir de onde ela vinha, equilibrou-se com dificuldade sobre seus pés e andou em direção a janela, afastou a cortina semiserrando os olhos, já quase cegos pela forte luz. A voz agora soava mais clara, mais firme, procurou até onde seus olhos alcançavam, mas não viu nada, nenhum movimento.

Estava intrigado, seu coração pulsava forte de encontro ao peito, já não existia medo, a voz cantava melodias suaves e então uma lágrima escorreu pelo seu rosto quando descobriu que a ouvia em sua cabeça, estaria louco? Não, não era possível, sempre fora lógico e sensato, com certeza deveria estar sob efeito de algum alucinógeno.

Caminhou até a porta, obstinado a descobrir o que havia de errado, ao tocar a maçaneta um arrepio percorreu-lhe a espinha ao perceber um pequeno envelope fixado a porta. Agarrou-o com mãos trêmulas e retirou de dentro um bilhete marcado com o mesmo perfume que pairava no ar, com uma caligrafia perfeita lia-se, “Esperava que despertasse, nos veremos logo”.

Flashes de imagens vultuosas surgiram na sua cabeça, podia agora recordar sensações, temor e êxtase se misturavam, o cheiro, a voz, nada parecia certo, tampouco parecia errado, vagava perdido em pensamentos. Ao entardecer, trilhava um extenso caminho de folhas secas, que logo descobriu terminar no início de um precipício.

Um sorriso de satisfação brincava agora nos seus lábios, “temia que não acordasse”, a voz agora era profunda, parecia colocar algum sentindo nas coisas. Foi neste momento em que a viu, lembrou-se dela, logo após o acidente com o vagão em que viajava ela surgiu no meio dos trilhos e foi então que entendeu que precisava viver por ela.

Foi mais difícil acordar naquele dia, o sonho se repetia cada vez com mais detalhe, agora o seu cheiro parecia real, estava presente naquela manhã quando ao olhar para o despertador, encontrou um pequeno envelope colocado minuciosamente em frente ao visor do rádio relógio, sentou-se rápido esfregando freneticamente os olhos, abriu-o retirando um delicado bilhete com a mesma caligrafia perfeita dos seus sonhos “você é meu destino, parte de mim, já não adianta fugir”.
                                                                                                        

  By: Camila Giordani